Por valor simbólico, Globo tenta dominar a agenda econômica


Ao pagar apenas R$ 20 milhões para adquirir os 50% do grupo Folha no jornal Valor Econômico, passando a controlar integralmente a publicação, a família Marinho se torna dona do único jornal de economia e negócios do Brasil e poderá, agora, tentar pautar ainda mais a agenda econômica – o que representa um risco para as empresas, uma vez que o modelo defendido pela Globo nunca trouxe bons resultados; valor irrisório do negócio demonstra ainda a crise da mídia em papel e a decadência de um jornal que depende de subsídios do governo federal, seja na publicidade, seja na obrigatoriedade para que, em plena era digital, empresas sejam obrigadas a publicar balanços, editais e fatos relevantes em publicações impressas.
Brasil mostra a tua cara quero ver quem paga pra agente ficar assim, Brasil qual o teu negocio, o nome do teu sócio confia em mim. Cazuza.
247 – Criado para concorrer com a já extinta Gazeta Mercantil, após investimentos iniciais de US$ 50 milhões, o equivalente hoje a R$ 165 milhões, o jornal Valor Econômico teve metade de suas ações vendidas por apenas R$ 20 milhões, segundo informações da coluna Radar.

Antes uma joint-venture entre os grupos Folha e Globo, o jornal será, agora, integralmente controlado pela família Marinho. Com isso, o Globo terá o monopólio da imprensa brasileira diária dedicada ao setor de economia e negócios, uma vez que outro concorrente lançado após o Valor, o Brasil Econômico, também fechou suas portas.

O negócio chama a atenção por várias razões. A primeira delas, o valor irrisório da venda, que revela a descrença da Folha na imprensa em papel. O que se comenta é que, além de desentendimentos relacionados ao Valor Pro, um serviço de informações em tempo real, que consumiu investimentos de R$ 131 milhões nos últimos três anos, a Folha não pretendia arcar com os custos de demissões no jornal.

Outro aspecto importante é o fato de a família Marinho, que teve papel decisivo na construção do ambiente para o golpe parlamentar de 2016, agora monopolizar as informações econômicas no Brasil – o que representa um risco para as próprias empresas e também para os trabalhadores. O modelo de desenvolvimento defendido pela Globo, em geral, é subserviente a interesses internacionais e ao capital financeiro. A Globo, por exemplo, foi apoiadora dos governos tucanos, que levaram o Brasil três vezes ao FMI e fez sistemática campanha contra o ex-presidente Lula, que fez com que o País conquistasse o grau de investimento.

Nos dias atuais, depois de uma intensa sabotagem contra a presidente Dilma Rousseff, a Globo e seus colunistas tentam criar uma falsa percepção de que a economia estaria melhorando, quando, na verdade, todos os indicadores se deterioram – a esse respeito, leia artigo de Miguel do Rosário aqui.

Ao controlar 100% do Valor, a Globo também fará de tudo para impor custos pesados às empresas, impedindo que o Brasil se modernize. Hoje, o Brasil é um dos únicos países do mundo que exigem que as companhias abertas publiquem seus balanços, fatos relevantes e editais em jornais impressos. Em plena era digital, em que os acionistas são conectados, trata-se de um gigantesco desperdício de recursos, sem falar no impacto ambiental. Como essa é a principal receita do Valor, a Globo fará de tudo, nos bastidores, para impedir mudanças na lei, que já foram defendidas até pela Comissão de Valores Mobiliários.

Leia, abaixo, o anúncio feito pelo próprio Valor sobre a mudança societária:

Grupo Globo assume controle integral do 'Valor'

O Grupo Globo comprou os 50% de participação que o Grupo Folha detinha na Valor Econômico S.A., empresa que edita o Valor. O acordo foi anunciado ontem, pelas duas companhias, por meio de comunicado. Os detalhes financeiros não foram divulgados. Com a transação, que está sujeita à aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o Grupo Globo passa a deter integralmente o negócio.

Lançado em 3 de maio de 2000, o Valor tornou-se rapidamente o maior jornal de economia e negócios do país. O investimento inicial foi de US$ 50 milhões. A redação foi comandada pelo jornalista Celso Pinto até 2003. Desde então, é dirigida por Vera Brandimarte, que também participou da equipe que concebeu a publicação.

Em julho deste ano, a circulação paga do Valor foi de 61.184 exemplares, segundo o Instituto Verificador de Circulação (IVC). No mesmo mês, a audiência digital ultrapassou 50 milhões de páginas vistas, com mais de 2 milhões de usuários. Números preliminares de agosto indicam aumento de 10% em usuários. O tempo médio de permanência no site do Valor é de meia hora por usuário/mês, mais que o dobro do segmento de notícias.

Em 2014, foi o lançado o Valor PRO, serviço de informação em tempo real destinado a ajudar na tomada de decisões em bancos, empresas de investimento e grandes companhias. Entre os serviços oferecidos na plataforma estão o Valor Empresas, que reúne uma base de dados com os balanços de 5 mil companhias de capital aberto e fechado, e o Valor Política, de acompanhamento de projetos em andamento no Congresso Nacional e em agências reguladoras.

No ano passado, o Valor foi o único entre os grandes jornais brasileiros a não registrar perda de receita em relação a 2014. Em um dos piores anos para a mídia, voltou a apresentar Ebitda positivo, bateu as metas estabelecidas pelos acionistas e apresentou até mesmo um pequeno crescimento na receita de publicidade noticiário.

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